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Por causa do atentado de Boston aumenta a preocupação das autoridades brasileiras com ações terroristas na Copa

 Para o Ministério Público, estamos atrasados

PRONTOS Policiais do Bope treinam operação no Corcovado. Polícias e Forças Armadas se preparam para garantir a segurança na Copa e na Olimpíada (Foto: Alexandre Vieira/Ag. O Dia)

O que diferencia o terrorismo do simples homicídio está no nome. Seu objetivo é aterrorizar. Não os mortos, cujas vidas são interrompidas sem que eles nem saibam o motivo. O terrorismo espalha o medo entre os vivos, e seus efeitos não escolhem grupos sociais nem respeitam fronteiras. Prédios de escritórios, bares, aviões comerciais, trens, metrôs, hotéis, nas Américas, na Europa, na África ou na Ásia: qualquer lugar pode ser alvo de uma ação terrorista, desde que ela possa causar um grande número de mortos e espalhar medo. Com 500 mil pessoas nas ruas para acompanhá-la, a Maratona de Boston era um alvo potencial. O Brasil não tem histórico de atividades terroristas, mas organizará, até 2016, alguns dos maiores eventos esportivos do planeta, com a presença de delegações de todas as partes do mundo. O Brasil pode ser escolhido por algum grupo armado como palco de um ataque? Sim. O país pode garantir que um atentado, caso planejado, não aconteça? Essa é a missão das autoridades brasileiras.

Na última quinta-feira (18), às 10h30, o ministro da Defesa, Celso Amorim, reuniu-se com seus principais auxiliares. Queria saber como andam os preparativos para garantir a segurança durante a Copa das Confederações, marcada para junho próximo, e na Copa do Mundo, no ano que vem. A reunião ganhou contornos mais preocupantes após o atentado à bomba em Boston. Amorim estava especialmente interessado nas informações do general Marco Antônio Freire Gomes, comandante da Brigada de Operações Especiais, localizada em Goiânia. Freire Gomes é o responsável pelo destacamento encarregado das ações contraterrorismo durante grandes eventos. Essa elite militar conta com 1.200 homens especializados em atividades delicadas, como o desarme de bombas e artefatos químicos e radiativos. Entram em ação em situações extremas. Para um país com histórico pacífico, tamanha preparação pode até parecer desmedida. A natureza do terrorismo, revelada na tragédia de Boston, prova que não é.

Os preparativos para a segurança dos grandes eventos começaram há cerca de dois anos. O governo federal distribuiu a responsabilidade da organização entre o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça. Criou até a Secretaria Extraordinária de Segurança para os Grandes Eventos (Sesge), responsável por organizar as ações de segurança pública. É da Sesge a responsabilidade de proteger aeroportos, estradas, portos, rede hoteleira, locais de exibições públicas, pontos turísticos e colaborar nos estádios e centros de treinamento. Até a Copa do Mundo contará com quase R$ 1,2 bilhão para comprar equipamentos e distribuir a Estados e municípios. Ao Ministério da Defesa, cabe organizar a proteção ao espaço aéreo, à área marítima e hidroviária, a usinas hidrelétricas, a subestações de energia e às fronteiras. No caso das fronteiras, há uma divisão de tarefas com a Sesge. Para cumprir sua missão, o ministério conta com R$ 768 milhões. As ações de segurança na Copa serão coor­denadas nacionalmente pela Sesge e pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA).

As iniciativas do governo, em suas várias esferas, têm sido acompanhadas de perto pelo Ministério Público Federal. O órgão criou um Grupo de Trabalho, o GT Copa, que produz balanços trimestrais sobre as medidas e os gastos para garantir a segurança na Copa das Confederações e na Copa de 2014. O último Relatório Parcial, produzido pelo procurador da República José Roberto Pimenta Oliveira e obtido com exclusividade por ÉPOCA, traz em detalhes o que os órgãos envolvidos têm – ou não – feito. A conclusão do procurador preocupa. “Considerando que a Copa das Confederações já será agora e que ela integrava todo esse planejamento, é manifesto que as providências estão atrasadas”, diz José Roberto Pimenta. “É necessária uma atuação mais eficiente da administração pública.”
TROPA DE ELITE Treino das Forças Especiais do Exército em Goiás. O grupo tem sido preparado para enfrentar possíveis ameaças terroristas em território brasileiro (Foto: Celso Junior/ÉPOCA)
No final de 2012, o MPF requisitou de todos os órgãos públicos envolvidos um resumo das medidas tomadas por cada um até então. Os governos do Rio Grande do Norte, Paraná, Distrito Federal e Amazonas nem sequer responderam. Também ficaram em silêncio as prefeituras de Manaus, Natal e Salvador. A Sesge disse ter executado, já em 2011, seu ano de criação, um orçamento de mais de R$ 193 milhões, vindos do Fundo Nacional de Segurança Pública. Ela informou ao MPF ter estabelecido convênios com secretarias de Segurança estaduais e municipais para comprar equipamentos e investir em capacitação das polícias e Guardas Municipais. Entre as principais medidas tomadas, está um convênio com a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro para implementar o Centro Integrado de Comando de Controle Nacional Alternativo (CICCNA), um centro de operações, em construção, na Praça Onze, centro do Rio. A empresa KPMG foi contratada, por quase R$ 10 milhões, para diagnosticar os serviços de todos os centros locais, instalados em cada cidade sede, de processos operacionais a tecnologia da informação e comunicação. A Sesge também fechou um Termo de Cooperação com a Receita Federal para comprar equipamentos a ser instalados nas fronteiras, no valor de quase R$ 40 milhões.

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