Marina Silva anuncia voto em Haddad no segundo turno das eleições
Candidata
da Rede à Presidência da República no primeiro turno, a
ex-ministra Marina Silva divulgou uma nota nesta segunda-feira (22) na
qual afirmou que dará “voto crítico” ao candidato do PT, Fernando
Haddad. Ele disputará o segundo turno com Jair Bolsonaro (PSL).
Após
o primeiro turno, a Rede Sustentabilidade recomendou aos filiados
que não votem em Jair Bolsonaro (PSL), mas não manifestou apoio a
Haddad.
Na
nota desta segunda-feira, Marina afirma que dará o voto a Haddad porque
o petista “não prega a extinção dos direitos” nem a repressão aos
movimentos.
“Diante
do pior risco iminente, de ações que, como diz Hannah Arendt, ‘destroem
sempre que surgem’, ‘banalizando o mal’, propugnadas pela campanha do
candidato Bolsonaro, darei um voto crítico e farei oposição democrática a
uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos
direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos
movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o
fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o
professor Fernando Haddad”, afirmou Marina na nota.
Após Marina divulgar a nota, Fernando Haddad publicou a seguinte mensagem no Twitter:
No
último dia 7, primeiro turno da eleição, Marina já havia dito que,
independentemente de quem for eleito, ela fará oposição ao novo
presidente.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no primeiro turno, Marina recebeu 1 milhão de votos (1%) e ficou 8º lugar.
Respeito
Na
nota desta segunda-feira, Marina afirma que Bolsonaro “minimiza a
importância de direitos e da diversidade existente na sociedade”,
promovendo a “incitação sistemática ao ódio, à violência, à
discriminação”.
“[O
projeto de Bolsonaro] é um projeto que mostra pouco apreço às regras
democráticas, acumula manifestações irresponsáveis e levianas a respeito
das instituições públicas e põe em xeque as conquistas históricas desde
a Constituinte de 1988”, afirmou.
“É
um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de
Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos
fundamentos éticos orientados pela fé cristã que são tão presentes em
toda a cultura ocidental. A pregação de ódio contra as minorias frágeis,
a opção por um sistema econômico que nega direitos e um sistema social
que premia a injustiça, faz da campanha de Bolsonaro um passo adiante na
degradação da natureza, da coesão social e da civilização”, acrescentou
Marina Silva.
Íntegra
Leia abaixo a íntegra da nota de Marina Silva:
MARINA SILVA: POSICIONAMENTO NO SEGUNDO TURNO
Neste
segundo turno a Rede Sustentabilidade já recomendou a seus filiados e
simpatizantes que não votem em Bolsonaro, pelo perigo que sua campanha
anuncia contra a democracia, o meio-ambiente, os direitos civis e o
respeito à diversidade existente em nossa sociedade.
Do
outro lado, a frente política autointitulada democrática e progressista
não se mostra capaz de inspirar uma aliança ou mesmo uma composição.
Mantém o jogo do faz-de-conta do desespero eleitoral, segue firme no
universo do marketing, sem que o candidato inspire-se na gravidade do
momento para virar a própria mesa, fazer uma autocrítica corajosa e
tentar ser o eixo de uma alternativa democrática verdadeira.
Alianças
vêm de propósitos comuns, de valores políticos e éticos, de programas e
projetos compartilhados, que só são possíveis em um ambiente de
confiança em que, diante de inaceitáveis e inegáveis erros, a crítica é
livre e a autocrítica é sincera.
Cada
um de nós tem, em sua consciência, os valores que definem seu voto. Sei
que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância de minha
manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica.
Mas é meu dever ético e político fazê-la.
Importa
destacar que, como já afirmei ao final do primeiro turno, serei
oposição, independentemente de quem seja o próximo presidente do Brasil,
e continuarei minha luta histórica por um país politicamente
democrático, economicamente próspero, socialmente justo, culturalmente
diverso, ambientalmente sustentável, livre da corrupção, e empenhado em
se preparar para um futuro no qual os grandes equívocos do modelo de
desenvolvimento sejam superados por uma nova concepção de qualidade de
vida, de justiça, de objetivos pessoais e coletivos. O meu apoio à
Operação Lava-jato, desde o início, faz parte dessa concepção, na qual o
Estado não é um bunker de poder de grupos, mas um instrumento de
procura do bem público.
Vejo
no projeto político defendido pelo candidato Bolsonaro, risco imediato
para três princípios fundamentais da minha prática política: primeiro,
promete desmontar a estrutura de proteção ambiental conquistada ao longo
de décadas, por gerações de ambientalistas, fazendo uso de argumentos
grotescos, tecnicamente insustentáveis e desinformados. Chega ao absurdo
de anunciar a incorporação do Ministério do Meio Ambiente ao Ministério
da Agricultura. Com isso, atenta contra o interesse da sociedade e o
futuro do país. Ademais, desconsidera os direitos das comunidades
indígenas e quilombolas, anunciando que não será demarcado mais um
centímetro de suas terras, repetindo discursos que já estão
desmoralizados e cabalmente rebatidos desde o início da segunda metade
do século passado. Segundo, é um projeto que minimiza a importância de
direitos e da diversidade existente na sociedade, promovendo a incitação
sistemática ao ódio, à violência, à discriminação. Por fim, em terceiro
lugar, é um projeto que mostra pouco apreço às regras democráticas,
acumula manifestações irresponsáveis e levianas a respeito das
instituições públicas e põe em xeque as conquistas históricas desde a
Constituinte de 1988.
Por
sua vez, a campanha de Haddad, embora afirmando no discurso a
democracia e os direitos sociais, evocando inclusive algumas boas ações e
políticas públicas que, de fato, realizaram na área social em seus
governos, escondem e não assumem os graves prejuízos causados pela sua
prática política predatória, sustentada pela falta de ética e pela
corrupção que a Operação Lava-Jato revelou, além de uma visão da
economia que está na origem dessa grave crise econômica e social que o
país enfrenta.
Os
dirigentes petistas construíram um projeto de poder pelo poder, pouco
afeito à alternância democrática e sempre autocomplacente: as
realizações são infladas, não há erros, não há o que mudar.
Ao
qualificar ambos os candidatos desta forma, não tenho a intenção de
ofender seus eleitores, milhões de pessoas que acreditam sinceramente em
um deles ou que recusam o outro, com muitas e justificadas razões. E
creio que os xingamentos e acusações trocados nas redes sociais e nas
ruas só trazem prejuízos à democracia, mas é visível que, na maioria das
vezes, essas atitudes são estimuladas pelos discursos dos candidatos e
de seus apoiadores. A política democrática deve estar fortemente
aliançada no respeito à Constituição e às instituições, exercida em um
ambiente de cultura de paz e não-violência.
Outro
motivo importante para a definição e declaração de meu voto é a minha
consciência cristã, valor central em minha vida. Muitos parecem
esquecer, mas Jesus foi severo em palavras e duro em atitudes com os que
têm dificuldade de entender o mandamento máximo do amor.
É
um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de
Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos
fundamentos éticos orientados pela fé cristã que são tão presentes em
toda a cultura ocidental. A pregação de ódio contra as minorias frágeis,
a opção por um sistema econômico que nega direitos e um sistema social
que premia a injustiça, faz da campanha de Bolsonaro um passo adiante na
degradação da natureza, da coesão social e da civilização. Não é um
retorno genuíno ao mandamento do amor, é uma indefensável regressão e,
portanto, uma forma de utilizar o nome de Deus em vão.
É
melhor prevenir. Crimes de lesa humanidade não tem como se possa
reparar. E nem adianta contar com o alívio do esquecimento trazido pelo
tempo se algo irreparável acontecer. Crimes de lesa humanidade o tempo
não apaga, permanecem como lição amarga, embora nem todos a aprendam.
Todas
essas reflexões me inquietam, mas mostram o caminho da firmeza, do
equilíbrio na análise e a necessidade de pagar o preço da coerência,
seja ele qual for.
E
assim chegamos, neste segundo turno, ao ponto extremo de uma narrativa
antiga na política brasileira, a do “rouba, mas faz” e depois, do
“rouba, mas faz reformas”, mas ajuda os pobres, mas é de direita, mas é
de esquerda etc. De reducionismo em reducionismo, inauguramos agora o
triste tempo do “pelo menos”.
Diante
do pior risco iminente, de ações que, como diz Hannah Arendt, “destroem
sempre que surgem”, “banalizando o mal”, propugnadas pela campanha do
candidato Bolsonaro, darei um voto crítico e farei oposição democrática a
uma pessoa que, “pelo menos” e ainda bem, não prega a extinção dos
direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos
movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o
fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o
professor Fernando Haddad.
Com G1.
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