Deputados estaduais do RJ são presos por venderem apoio político a ex-governador
A
Polícia Federal prendeu 20 pessoas em um desdobramento da Operação Lava
Jato na manhã desta quinta-feira (8). Dos 22 mandados de prisão, 10 são
contra deputados estaduais do Rio de Janeiro. Entre os alvos da
Operação Furna da Onça está Affonso Monnerat, secretário de governo de
Luiz Fernando Pezão (MDB). O governador não é investigado. As
investigações apontam que os envolvidos recebiam propinas mensais que
variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil - além de cargos.
Três
dos parlamentares foram presos no ano passado: Jorge Picciani, Paulo
Melo e Edson Albertassi. O deputado estadual Chiquinho da Mangueira foi
preso por volta das 7h25 desta quinta-feira; André Corrêa, seu colega de
Alerj e ex-secretário de Meio Ambiente, às 8h10.
A
investida, desta vez, mira esquema de compra de apoio político de
parlamentares. O alvo é o grupo político da base do MDB do ex-governador
Sérgio Cabral, que comanda o estado há mais de 10 anos. O nome da
operação é referência a uma sala localizada ao lado do plenário da Alerj
onde deputados se reúnem para rápidas discussões antes das votações.
De
acordo com as investigações, a organização criminosa, chefiada pelo
ex-governador Sérgio Cabral, pagava propina a vários deputados
estaduais, a fim de que patrocinassem interesses do grupo criminoso na
Alerj.
O
“mensalinho” era resultado de sobrepreço de contratos estaduais e
federais. De forma ilícita, os parlamentares eram beneficiados ainda com
o loteamento de cargos em diversos órgãos públicos do estado, como o
Detran, onde poderiam alocar mão de obra comissionada ou terceirizada.
A força-tarefa afirma que o esquema continuou mesmo após as operações do ano passado.
Os
investigados devem responder, na medida de suas participações, pelos
crimes de organização criminosa, corrupção ativa, passiva e lavagem de
dinheiro.
Policiais
federais cumprem mandados de busca e apreensão no Palácio Guanabara,
sede do Executivo Fluminense, e no anexo da Alerj.
Carlos
Miranda, gerente financeiro do esquema organizado por Sérgio Cabral,
diz que o dinheiro do ex-governador ia para as mãos dos presidentes da
Casa, Jorge Picciani ou Paulo Melo. Cabia a eles repartir a propina com
outros integrantes do Legislativo.
Segundo
Miranda, no entanto, alguns dos parlamentares também recebiam prêmios
de Sérgio Cabral para atender os interesses da quadrilha na Assembleia.
As verbas vinham de recursos desviados pelo Executivo estadual,
inclusive de obras federais como o PAC.
A
investigação também descobriu que os deputados recebiam como
contrapartida, além da propina, a disponibilização de postos de trabalho
em empresas como o Detran, por exemplo. Os parlamentares indicavam
pessoas próximas, como parentes, para os cargos que eram "separados"
pelo Poder Executivo.
Em outubro, a GloboNews mostrou que, em sua delação, Carlos Miranda afirmou que Cabral pagava um mensalão a seis deputados estaduais, de vários partidos, para garantir o apoio deles ao governo.
Alguns dos alvos são:
- Affonso Monnerat, secretário estadual de Governo;
- André Correa (DEM), deputado estadual e ex-secretário estadual de Meio Ambiente, preso na Barra;
- Chiquinho da Mangueira (PSC), deputado estadual reeleito e presidente da escola de samba, preso na Barra;
- Coronel Jairo (MDB), deputado estadual não reeleito;
- Edson Albertassi (MDB), deputado afastado - já preso em Bangu;
- Jorge Picciani (MDB), deputado afastado - já em prisão domiciliar;
- Leonardo Jacob, presidente do Detran;
- Luiz Martins (PDT), deputado estadual reeleito;
- Marcelo Simão (PP), deputado estadual não reeleito;
- Marcos Abrahão (Avante), deputado estadual reeleito;
- Marcus Vinícius Neskau (PTB), deputado estadual reeleito;
- Paulo Melo (MDB), deputado afastado - já preso em Bangu;
- Vinícius Farah (MDB), ex-presidente do Detran, eleito deputado federal;
A
operação foi determinada por desembargadores da 1ª Seção Especializada
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e se debruça também
sobre a atual gestão do governo estadual, apesar de não haver citação
direta ao governador Luiz Fernando Pezão.
Operação Cadeia Velha
Deflagrada em novembro de 2017,
a operação levou para a cadeia os deputados Jorge Picciani, Paulo Mello
e Edson Albertassi e investigou esquema de corrupção em que os
deputados usavam da sua influência para aprovar projetos na Alerj para
favorecer as empresas de ônibus e também as empreiteiras.
Atualmente, Jorge Picciani está em prisão domiciliar por causa de sua saúde e Paulo Mello e Albertassi seguem presos em Bangu.
Esta semana, o RJ2 mostrou trechos de escutas gravadas com autorização da Justiça na época da Cadeia Velha. Os áudios trazem Picciani articulando para sair da prisão, horas antes de se entregar, e o braço direito do então presidente da Alerj negociando recolhimento de propina.
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