Empresário é denunciado pelo MP em fraude na venda de lotes em Conde.
O
Ministério Público da Paraíba denunciou um empresário inglês, identificado como
David Raymond Gibbins, sócio majoritário da empresa James Lawrence, pelos
crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Conforme
denúncia, apresentada no dia 4 de julho, David Gibbins é acusado de participar
de um esquema que vendia falsos lotes do condomínio de luxo Brisas de Coqueirinho,
na cidade do Conde e que resultou na apropriação de pelo menos R$ 3 milhões das
vítimas.
A defesa de David
Gibbins pediu à Justiça que a denúncia do Ministério Público da Paraíba seja
rejeitada, uma vez que ele não obteve uma “vantagem indevida”, mas um prejuízo,
por ter investido R$ 30 milhões no empreendimento, conforme o advogado. Além
disso, pontuou que, em relação às acusações de lavagem de dinheiro e associação
criminosa, não há elementos suficientes para configurar esses crimes.
A operação identificou que a empresa
James Lawrence Developments (JLD), responsável pelo “Brisas de Coqueirinho”,
vendia lotes a valores mínimos de cerca de R$ 40 mil. Foram vendidos desde 2011
pelo menos 400 lotes. Alguns investidores chegaram a comprar R$ 300 mil em
lotes. A previsão de entrega do empreendimento era em abril de 2017. Os
investidores constataram que nenhuma obra havia sido iniciada e denunciaram a
fraude.
Conforme denúncia assinada
pela promotora Dinalba Araruna Gonçalves, por mais que o empresário inglês não
tivesse sido denunciado inicialmente, novos fatos colhidos a partir de
cumprimento de mandados e de provas testemunhais, colhidos em audiência
realizada no dia 27 de maio deste ano, indicam que David Raymond Gibbins se
apropriou ilicitamente dos valores provenientes das vendas dos lotes do “Brisas
de Coqueirinho”.
“Conforme narrado na denúncia,
ano de 2013 os acusados Mário Sérgio e Marco Gralio remeteram à conta bancária
da JLD para o réu Luís Sérgio Barbosa o importe de R$ 1,17 milhão para
aquisição de um apartamento na capital federal”, explica a promotora na
denúncia. O valor de mais de R$ 1 milhão era referente justamente ao dinheiro
recolhido com a venda dos lotes inexistentes do “Brisas de Coqueirinho”.
Ainda segundo o MP, a
compra do imóvel foi confirmada por meio de emails enviados por David Gibbins,
que também ordenou transferências bancárias conta de sua esposa. Além de tudo,
o inglês também assinou procurações para que os demais réus negociassem em nome
da JLD, inclusive assinando cheques em nome da empresa.
“Constata-se que o
estrangeiro David Gibbins teve tempestivamente a ciência acerca das
dificuldades enfrentadas pelo empreendimento, porém nada fez a respeito, sequer
ordenou a suspensão das vendas, demonstrando seu intuito em obter lucro em
prejuízo alheio”, afirma o MP na denúncia.
Outra
irregularidade cometida pelo inglês, conforme denúncia do MP, foi a compra de
lotes do condomínio, estes com as maiores medidas, em valores muito abaixo de
mercado a sua empresa sócia, a Digibeth Investiments Limited. O fato se
configura como prática comercial desleal. O empresário estrangeiro ainda havia
organizado com os demais réus vendas de lotes no estado de Minas Gerais e no
exterior, sem apresentar o bem a ser vendido.
Por fim, o MP requer
especialmente à Justiça que a Procuradoria da República na Paraíba apure ainda
os indícios de sonegação fiscal e distribuição disfarçada de lucro entre as
empresas do inglês, James Lawrence Developments e Digibeth Investiments
Limited.
O
advogado Djan Henrique Mendonça, que representa judicialmente 500 pessoas que
compraram lotes e foram prejudicadas com as fraudes denunciadas, informou o
processo judicial para que haja reembolso por parte da James Lawrence
Developments tramitam desde janeiro de 2017. São mais de 100 ações contra a
empresa.
Além da fraude da
venda dos lotes que não chegaram a existir, a JLD havia cometido um erro no
registro do empreendimento nos órgãos competentes. “A empresa havia registrado
o cartório como loteamento comum e não como condomínio”, afirma o advogado.
Conforme o representante das vítimas, houve um calote por parte da empresa
também em um processo de recuperação judicial iniciado pelo inglês na Justiça
Brasileira.
“A empresa [JLD]
entrou com pedido de recuperação judicial. O sócio [David Gibbins] diz que é
credor das quantias que ele emprestou para empresa e pediu ao administrador
judicial para reservar para ele um crédito desse valor. O pedido não foi
aprovado nem rejeitado oficialmente pelos credores, porque não houve
assembleia”, informou Djan Henrique Mendonça.
De acordo com o
representante dos compradores dos lotes, foram apresentadas “petições no
processo judicial apontando diversas falhas do pedido de recuperação e no
deferimento do processamento da recuperação. Os credores também apresentaram
objeção ao plano de recuperação e tudo isso está aguardando análise do juiz do
Conde”, explicou.
Ainda de acordo com o
advogado Djan Henrique Mendonça, que também atuam como assistentes de acusação,
David Gibbins afirma que aportou uma quantia de R$ 4 milhões e que desse
dinheiro teria saído o valor para aquisição do apartamento em Brasília. Na
condição de credor, o empresário inglês pede que tenha R$ 6 milhões
assegurados, para concorrer com os credores de fato que adquiriram os lotes.
“Basicamente ele
vendeu os lotes, não entregou, retirou dinheiro da própria empresa e planeja
ressarcir os consumidores com deságio de 75% para retomar os lotes e vender a
preço de mercado”, detalha o advogado assistente de acusação. Ele comenta ainda
que a proposta da JLD foi de pagar os valores apropriados indevidamente parcelo
em 15 anos, a valer após um ano do plano de recuperação ser homologado na
Justiça.
“Quem pagou R$ 120
mil em um lote vai receber apenas R$ 2 mil por ano, em 15 anos”, avaliou Djan
Henrique Mendonça. A estimativa do que foi desviado foi apresentado pela
empresa em alguns processos não chega a R$ 3 milhões, pelas contas da empresa,
ao passo que a empresa diz no pedido de recuperação que o empreendimento vale
R$ 350 milhões. Se comprovado o desvio, não chega a 1% do empreendimento, de
acordo com processo.
A
operação Maresia da Polícia Civil, deflagrada em 2017, apurou fraudes na venda
de lotes em um condomínio de luxo em João Pessoa. De acordo com o delegado
Delegacia de Defraudações e Falsificações João Ricardo, a empresa alvo da
operação já vendeu mais de 300 lotes no Brasil e no exterior, em mais de cinco
anos, mas nenhuma etapa da construção do condomínio foi feita.
Mandados de busca e
apreensão na sede da empresa e em endereços pessoais de um dos administradores
foram cumpridos e vários documentos como registros de movimentações bancárias e
panfletos do empreendimento, além de computadores. O material apreendido pela
Polícia Civil da Paraíba e as provas testemunhais serviram de base na denúncia
apresentada pelo Ministério Público.
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