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Em jogo temerário, PL aposta suas fichas em transferência de voto

 


O agravamento das divergências e a clara perspectiva de um racha do partido na Paraíba parecem revelar que a direção nacional do PL não tem métodos ou esteja usando métodos confusos para definir candidaturas nos municípios e a tática para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro como o principal líder da direita conservadora no país. 

Os problemas começam com dúvidas sobre quem comanda o processo de definição nos Estados.  Se é o próprio ex-presidente Bolsonaro, como se atribui, estaria havendo algum desapreço pela base e um certo privilégio às figuras que transitam em torno da cúpula, oriundas do ex-governo. Se o comando é da direção nacional do partido, os problemas regionais podem estar sendo somatizados em detrimento do plano do ex-presidente. 

Veja-se a situação da Paraíba ou de João Pessoa. Os três principais nomes da base eleitoral - o comunicador Nilvan Ferreira e os deputados Cabo Gilberto e Walber Virgulino - não estão sendo levados em consideração. Ao contrário: todas as decisões de Brasília são no sentido de deixá-los às margens do processo, com a obrigação de seguir o que for estabelecido. O escolhido para ser candidato em João Pessoa e liderar o movimento para manter a chama bolsonarista é o ex-ministro Marcelo Queiroga (Saúde). Ele próprio anunciou sua missão em entrevista ao programa Correio Debate, nesta segunda-feira. 

A questão de método entra aqui. Quais os critérios usados para essa escolha? Por que Marcelo Queiroga e não Nilvan Ferreira? Por que escantear o grupo da base, já testado nas urnas, e apostar numa nova solução? Por que não juntar os dois grupos a partir do diálogo com o critério de que candidato a prefeito seria escolhido com base em pesquisa realizada no início do próximo ano? Por que o verticalismo  das decisões?

Não que o ministro Marcelo Queiroga não tenha potencial, mas a aposta, conforme está sendo executada, parece fundada na crença, absoluta e sem desconfiança, no poder de transferência de voto do ex-presidente Bolsonaro. Outro depósito de crença parece estar sendo depositado, sem receio, na perspectiva de que a direita conservadora vai disputar as eleições de forma unida, com um único candidato. 

Não foi assim nem nas eleições de 2022, nas quais o próprio Bolsonaro era candidato. Na Paraíba, a direita conservadora tinha dois candidatos  diretos ao Senado - Bruno Roberto (PL) e Pastor Sérgio (PRTB)-, além de Efraim Filho (União), que se fez bolsonarista no processo. O candidato assumidamente de Bolsonaro- Bruno Roberto - só obteve 32,3% da votação do presidente no Estado e 27,99% em João Pessoa. O índice de transferência foi até razoável, mas insignificante para a disputa de cargos majoritário. 

Nesse jogo de transferência de voto, interessante se observar a relação da votação de Lula com a do senador Veneziano Vital do Rêgo, que fez campanha para governador colada na imagem do petista. Veneziano obteve apenas 24% da votação de Lula no Estado. Talvez valha lembrar o caso da candidatura de Estela Bezerra à Prefeitura de João Pessoa em 2012 com o apoio do governador Ricardo Coutinho. Ela conseguiu apenas 28,4% da votação que Ricardo obteve nas eleições para prefeito em 2008, quando venceu no 1° turno com mais de 71% dos votos. Em 2020, o prefeito Luciano Cartaxo só conseguiu transferir 21,17% da votação que havia obtido na reeleição (2016) para sua candidata Edilma Freire. 
Por todos os exemplos, apostar fichas na transferência de voto é um jogo temerário.

O PL nacional está desprezando, de pronto, a experiência de 2020 do apresentador Nilvan Ferreira, que, sem Bolsonaro, obteve 16,6% (1° turno) dos votos em João Pessoa e passou para o 2° turno e uma votação de 31,10% na eleição para governador (2022), o que representou 63,4% da votação de Bolsonaro na capital. 

Fatos e dados mostram, pois, que, por qualquer que seja o ângulo da análise, o PL nacional ou não tem métodos para definir estratégia na Paraíba ou está seguindo métodos bastante confusos. 

Talvez o próprio PL nacional esteja confuso em relação ao que fazer no atual quadro da política brasileira.

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