Radialista Fabiano Gomes fez delação, entregou Roberto Santiago e todo esquema de corrupção em Cabedelo
Após as denúncias do ex-presidente da Câmara de Cabedelo, Lucas
Santino, teve início a operação ‘Xeque-Mate’ no município de Cabedelo,
com prisões do prefeito, vice-prefeito, vereadores e secretários. Lucas
apontou o nome do radialista Fabiano Gomes como um dos articuladores da
compra do mandato do ex-prefeito Luceninha, e em depoimentos prestados
nos dias 03.04.2018, 05.04.2018, 07.04.2018, 18.04.2018 na Policia
Federal, o ex-secretário de comunicação de Cabedelo, OLÍVIO OLIVEIRA,
confirmou a informação e apontou uma série de condutas criminosas
praticadas pela organização formada no municipio.
O radialista Fabiano Gomes, um dos denunciados pelo Ministério
Público no âmbito da Operação Xeque-Mate, compareceu espontaneamente a
sede do MPPB em 27 de abril de 2018, e prestou um depoimento onde
colocou o empresário Roberto Santiago, como o principal articulador da
Organização Criminosa que se instalou na cidade de Cabedelo com a compra
do mandato do ex-prefeito Luceninha em favor de Leto Viana.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Fabiano Gomes, dentre
outras pessoas, foi responsável por exercer forte pressão junto ao
Prefeito Luceninha para pagamento de um acerto prévio de R$ 30.000,00
mensais repassados a ele pelo então prefeito.
O MP nomeou a organização criminosa de “Orcrim”, que surgiu a partir
da compra do mandato de José Maria de Lucena Filho (Luceninha), devido a
dívidas contraídas por ele na campanha eleitoral. Desde então, a
organização passou a praticar diversos crimes, como desvio de recursos
públicos através da indicação de servidores “fantasmas”; corrupção ativa
e passiva; fraudes a licitações; lavagem de dinheiro; avaliações
fraudulentas de imóveis públicos e recebimento de propina para aprovação
ou rejeição de projetos legislativos. As apurações desses e de outros
crimes continuam, devendo resultar no oferecimento de novas denúncias.
O Ministério Público registrou que no dia 27.04.2018, FABIANO GOMES,
dizendo-se ameaçado por telefonemas anônimos, procurou o Ministério
Público da Paraíba para prestar depoimento e relatar sua versão dos
fatos sob investigação. O depoimento foi registrado em mídia
audiovisual.
Fabiano afirmou que não houve compra do mandato, mas uma procura
espontânea, por parte de Luceninha e Olívio, ao empresário Roberto
Santiago, através de Fabiano Gomes, para saldar dividas de campanha
cujos credores estariam tomando insustentável a permanência de Luceninha
à frente da gestão municipal.
A carta-renúncia de Luceninha foi redigida pela Sra. Maria Walquiria,
então assessora de imprensa do Manaíra Shopping, sob a orientação do
declarante. A carta teve firma reconhecida na casa da dona do Cartório
de Cabedelo, no bairro de Manaíra.
O MP aponta que Fabiano Gomes chegou a ameaçar, na mídia televisiva,
denunciar o esquema da compra do mandato de Cabedelo porque Leto Viana
parou de pagar o “contrato” mensal que a empresa de Fabiano tinha com a
Prefeitura durante a gestão de Luceninha e que ficara acordado ser
mantido na gestão Leto Viana.
O radialista chegou a ganhar R$ 100.000,00 em cima de cheques
repassados por Roberto Santiago, tendo em vista que antecipou um valor a
menor que o constante do cheque.
Na delação ao Gaeco, Fabiano Gomes afirmou que Roberto Santiago era,
de fato, o prefeito de Cabedelo, cabendo-lhe, efetivamente a gestão do
município, inclusive a nomeação de Secretários e chegou a oferecer o
contrato de lixo da Prefeitura, contrato este com sérios indícios de
superfaturamento, para o comunicador.
Ao fim do depoimento, Fabiano Gomes disponibilizou-se a colaborar de
forma irrestrita com as investigações, colocando a descoberto seus
sigilos bancário e telefônico.
Em nota, o radialista disse que: “o desdobramento da operação
Xeque-Mate, divulgado hoje, me faz reafirmar a confiança absoluta na
Justiça e nos aparatos de investigação, os quais procurei, espontânea e
antecipadamente, como deve sempre proceder quem nada tem a temer ou a
ocultar”, disse.
Mesmo com a disposição de colaborar e de ter se apresentado
para depor, o Ministério Público resolveu denunciar o comunicador
Fabiano Gomes e destacou o seguinte:
Ainda que não se possam tomar por absolutamente verdadeiros os fatos
relatados por FABIANO GOMES DA SILVA’, é inegável que a versão por ele
apresentada, e sua posição central no esquema investigado, se presta a
corroborar a tese central em que se arrima a presente investigação
criminal, qual seja, a de que a organização criminosa de natureza
politica capitaneada por LETO VIANA ascendeu ao poder tendo por
sustentáculo financeiro o empresário ROBERTO SANTIAGO, cujos recursos
possibilitaram:
1 – A compra do mandato do ex-prefeito Luceninha com a consequente
ascensão de Leto Viana ao cargo de Prefeito Municipal, cuja missão
precípua era barrar a construção do shopping Pátio Intermares.
2 – A consolidação de uma administração municipal baseada na
corrupção financeira, em que grassavam desvios de todas as matizes,
conforme revelado pelas investigações que redundaram na primeira fase da
Operação Xeque-Mate;
3 – Subornos sistemáticos de vereadores com a finalidade exclusiva de
impedir a construção do shopping Pátio Intermares, obstaculizando-se,
dessa forma, e de maneira deliberada, o desenvolvimento econômico do
município, lesado de forma irreversível no que diz respeito ao seu
progresso econômico.
4 – A submissão da atividade política municipal ao poder financeiro
do citado empresário, que passou a se imiscuir despudoradamente na
administração municipal, chegando a atuar, nas palavras de Fabiano
Gomes, como prefeito “de fato”, cabendo-lhe inclusive compor o
secretariado municipal a seu livre alvedrio.
5 – Com efeito, ainda que FABIANO GOMES procure negar o óbvio, a
compra do mandato resta devidamente caracterizada pelas provas juntadas
aos autos, não a desnaturando o fato de ter sido LUCENINHA a procurá-lo
ou vice-versa.
Dentre outras acusações…
A Lei 12.850/2013 prevê até 8 anos de reclusão para quem promove,
constitui, financia ou integra organização criminosa, cuja pena ainda
pode ser aumentada em até 2/3, diante da participação de funcionário
público. Além disso, no processo, o MPPB requereu à Justiça a aplicação
das penas de perda de cargo, emprego, função pública ou mandato eletivo
dos réus e a fixação de R$ 20 milhões (valor mínimo), como estimativa de
valor dos danos causados pela atuação da organização criminosa.
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